terça-feira, 15 de junho de 2010

Amantes por livros

Costumava frequentar a biblioteca pública todas as tardes de quinta-feira. Chegava, escolhia um livro e me sentava em uma das últimas mesas entre as prateleiras no fim da sala.
Não lembro porque, naquela tarde de uma segunda-feira, em que chovia muito e eu não tinha nada para fazer, resolvi ir à biblioteca.
Cheguei e segui minha rotina. Peguei um livro e me sentei em uma das últimas mesas entre as prateleiras no fim da sala.
Folhei o livro, li algumas linhas, quando escutei um gemido, como se fosse o barulho de alguém que estava intensificado de prazer. Levantei-me e guiado pelo barulho eu a vi, sentada no chão, entre duas prateleiras com um pequeno livro entre as pernas. Me aproximei, perguntei se ela estava bem. Envergonhada, disse baixinho sem me olhar, que sim.
Sentei-me ao seu lado. Logo senti que o chão estava frio. Perguntei o que ela estava lendo. Era um livro da escritora Hilda Hilst.
Ela me olhou profundamente e disse: _ gosto de vir à biblioteca para ler esses livros, eles me excitam.
Eu disse que não os conhecia, mas que estava interessado em conhecer.
Ela se propôs a me mostrar e passamos o que sobrou da tarde, sentados ao chão frio.
Na saída, quando a chuva já havia parado e um pequeno sol parecia que se punha atrás daqueles longos prédios, combinamos de nos encontrar novamente.
Na outra semana, cheguei muito entusiasmado na biblioteca. E lá estava ela, me esperando. Me aproximei lentamente, nossos olhos se encontravam fixos um ao outro. Mais perto, ela sorriu. Tinha um sorriso largo, com dentes brancos e de tamanhos paralelos. Encantador, sem dúvida.
Sentei me ao seu lado, e ela disse: _ pronto para mais uma leitura excitante?
Foram muitos meses de encontro. Passamos a frequentar a biblioteca semanalmente, todas as segundas, lendo e sentido o cheiro daqueles livros que nos deixavam extremamente excitados.
Em uma das muitas segundas de nossos encontros, ao terminarmos nossa rotina de leitura e prazer, na saída ela me perguntou se não queria tomar um café em sua casa. Um pouco surpreso com o convite, eu aceitei.  
Fomos até seu apartamento. Um lugar muito bonito, de frente para uma praça cheia de árvores. Ao subirmos pelo elevador, ela passou por mim, abriu a porta e esperou que eu entrasse. Em seguida ela bateu a porta e passou as chaves.
Perguntei assustado: _ não há ninguém em casa? _ Não, disse ela, me olhando profundamente como sempre fazia.
Sentei-me no sofá e ela seguiu para o quarto. Alguns minutos depois, ela gritou lá de dentro para que eu entrasse. Totalmente sem jeito com aquela situação, fui até ela.
Quando entrei, a vi deitada totalmente nua sobre a cama. Com toda delicadeza, e uma voz sussurrante, ela disse: _ agora vamos por em prática tudo o que aprendemos com as nossas leituras.
Aquele foi o melhor final de tarde que já tive. Muito melhor do que havia imaginado nas tardes que passamos juntos na biblioteca.
Depois daquele dia, nos tornamos verdadeiros amantes. Excitados pelos livros e um pelo outro. 

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