sábado, 26 de junho de 2010

Alice

Mais uma tarde de sábado, sol quente, vento forte com poucas nuvens no céu e lá estava ela, trancada naquela sala em frente ao seu computador, digitando coisas sem importância e navegando por sites que naquele momento não pareciam completar a sua satisfação. Na verdade ela não queria estar ali, queria estar longe, em um lugar onde não houvesse telefone que tocasse sem parar, tecnologia ou pessoas falando descontroladas em seus ouvidos.
Estava cansada, sabia que sua vida não era mais a mesma. Muita monotonia, muito estresse, muito trabalho e nenhum amor.  
Secretária de um renomeado advogado há 6 anos, Alice já não estava satisfeita. Sua rotina se resumia a sua casa e ao trabalho, nem mesmo os amigos ligavam mais para convidá-la para sair. Sentada em frente aquele computador, olhando fixamente para a tela, onde na verdade não via nada, estava concentrada em seus pensamentos, pensando que talvez deveria fazer algo diferente, quem sabe chamar uma velha amiga para sair, ir a um café ou mesmo até uma festinha para se animar. Logo desistiu da ideia, pensou consigo mesmo que nada adiantaria, pois certamente nenhuma velha amiga ainda estaria solteira para acompanhá-la, e as festinhas sempre a deixaram constrangida e insegura demais para se divertir.
Olhou para o relógio pendurado na parede, eram quase 17h30. Desligou o computador, arrumou alguns papeis que estavam sobre a mesa e os guardou na gaveta. Olhou pela janela e viu que lá fora o sol estava mais fraco, porém o vento havia aumentado. Parecia que o tempo estava mudando e a noite talvez viesse uma chuva. Como seu carro estava na oficina, teve que se apressar para pegar o metro.
Desceu pelo elevador central, onde se encontrou com a secretária que trabalhava na sala ao lado. Não eram conhecidas íntimas, apenas se viam pelos corredores ás vezes.
Bárbara, como se chamava a secretária, era uma moça bonita, longos cabelos loiros até a metade das costas, olhos castanhos arredondados. Seu corpo não era o de uma modelo de lingeries, mas chamava a atenção dos homens pelas longas pernas grossas que exibia em saias justas que marcavam seu quadril e desciam até os joelhos.
Olhando-a, Alice pensou: talvez se mudasse seu visual, comprasse umas roupas novas, pintasse o cabelo, poderia ser que se sentisse melhor. Concentrada em seus pensamentos, não notou que Bárbara falava com ela e em um susto repentino, sentiu a moça lhe tocar no ombro.  Deu um pulo discreto e a olhou firme nos olhos. __ Desculpe, não ouvi o que você falou.
E a moça repetiu: __ Estava falando que hoje o dia estava bonito mais cedo, mas que agora parece que vai vir chuva.
__ A sim, disse Alice, parece mesmo que vamos ter chuva.
Então o elevador se abriu, e as duas saíram. Barbara olhou para Alice e pensou: ela é tão bonita, mas está assim, sempre tão distraída, quieta, parece infeliz. __ Já tem algum programa para hoje à noite? Perguntou sem pensar direito no que estava fazendo.
__ Alice assustada, disse que não, que seus planos era ir para casa, tomar um banho e assistir algum programa chato na Tv. 
Barbara balançou a cabeça, como se concordasse. Então se atreveu a convidar aquela moça que pouco conhecia para sair.
__ Bom, hoje tenho um jantar para ir , é na casa do meu primo. Já que você não tem um programa especial para fazer, talvez gostaria de ir comigo.
Alice olhou séria e pensou se deveria aceitar. A final, não conhecia Barbara direito, poderia ser arriscado. Então pensou em sua casa, vazia, escura e solitária. Não tinha a menor vontade de voltar para lá, queria na verdade fazer coisas diferentes, conhecer pessoas diferentes. Então sem pensar em mais nada, disse que sim, que aceitava o convite.
As duas seguiram até a rua. Barbara disse que passaria para buscá-la  ás 20 horas. Alice tirou um bloco de anotações da bolsa e uma caneta.
__ Tome, aqui está meu endereço e telefone.
__ Ok, disse Barbara. Passo na sua casa, não é muito longe da minha.
Elas se olharam, como se soubessem que tudo aquilo era muito estranho, mas nem uma nem a outra pronunciou qualquer outra palavra, além de até logo. 

Continua...

Nenhum comentário: